Eu tinha muita coisa. Na verdade, eu tenho muita coisa hoje, um trabalho, uma casa, uma família. Mas além de ganhar muito com o tempo, muito do que eu tinha eu perdi.
Acho que é o caminho normal da vida. E eu nem estou falando da agilidade, da disposição e do ímpeto da juventude, que esses a gente sabe que vai deixar ao longo do caminho. A gente se prepara pro corpo envelhecer, mesmo que não perceba. Falo das pequenas coisas, que no final de tudo, eram muito maiores do que a gente poderia imaginar.
Eu tinha sonhos que hoje estão vivos só lá no fundo da mente. Eu ia pra praia levando só Miojo e papel higiênico. Eu tocava violão todo dia. Eu tinha uma banda, que chegou a gravar um disco e hoje está há meses sem se reunir. Eu tinha um time de basquete. Eu tinha tanta coisa...
Meus amigos, que eu ainda os tenho, graças ao bom Deus, iam todos à minha casa, para nada fazer, aproximadamente todo dia. E eu às casas deles. Hoje eu mal me lembro da última vez em que a gente reuniu a todos fora de ocasiões especiais ou finais de semana. Eu tinha a proximidade. Hoje eu continuo tendo a força de laços que eu não pretendo deixar morrer, mas a vida distancia. Muitos estão morando em outras cidades, correndo atrás de ganhar a vida. Como eu disse, é o rumo natural das coisas.
A gente nem percebe e fica adulto. É uma dicotomia grande, a gente ter que ficar adulto pra ganhar a vida, e não poder ficar muito adulto pra não perdê-la para nós mesmos. O custo é muito alto, deixar de ver a beleza das pequenas coisas para tentar alcançar coisas maiores. E a gente no meio, tentando balancear tudo.
No fim, acho que as coisas mais importantes são exatamente as pequenas, aquelas que a gente viveu a vida inteira. Sabe aqueles textos de grandes poetas à morte, que começam com "Se eu pudesse viver de novo", ou algo que o valha. Eu mesmo conheço pelo menos três desses textos. Se você reparar, nenhum deles se arrepende de não ter comprado um carro mais luxuoso. Acho que a sensibilidade ao que importa acaba voltando, eventualmente, se a gente deixar a porta aberta.
Eu quero fazer com que pra mim, ela volte mais cedo, ou idealmente, que ela nunca me abandone por completo. Eu não quero ser como os poetas, e descobrir que não vivi como poderia. Ou melhor, como deveria, porque a vida é nossa, mas ela é tão única que nos traz a obrigação de vivê-la plenamente.
E a mim hoje parece que viver como eu devo é recuperar tudo que eu tinha.
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ResponderExcluirLi uma vez: "Em seu leito de morte, você nunca vai desejar ter ficado mais horas no escritório". Daí pedi a conta na Cultura Inglesa...
ResponderExcluirNossa, tudo isso me fez pensar nas coisas que fiz, que quero fazer e até aquelas que não fiz.Nas amizades, nos nossos encontros, como era bom.
ResponderExcluirHoje viramos gente grande, com compromissos, obrigações, mas quando nos reunimos, aquele momento da "turma" é único. Nunca devemos deixar de fazer isso, mesmo que demore...
Beijo grande
Fá